quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Algodão colorido selvagem é 'domesticado' e vira artigo de exportação

Espécie de algodão colorido produzido no interior da Paraíba
Espécie de algodão colorido produzido no interior da Paraíba

Utilizado na confecção de roupas há mais de 4.000 anos, o algodão colorido perdeu espaço para o tipo branco no século 19, pois tinha fibras fracas que se quebravam nas máquinas. Porém, com um trabalho de melhoramento genético nos últimos anos, o algodão colorido ficou mais resistente e volta a ter valor de mercado.

Após o cruzamento com o algodão branco comercial, em um trabalho desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no início de 2000, o tipo colorido do algodão voltou a ser produzido em escala comercial e já é exportado para França, Japão, Estados Unidos e Alemanha.

A principal vantagem do algodão colorido é o menor impacto ambiental. Uma peça de roupa feita com o produto utiliza, em média, apenas 10% da água gasta em uma confecção tradicional. Além disso, o produto é valorizado por ser orgânico, ou seja, não utiliza agrotóxicos ou adubos artificiais.

Algodão colorido representa menos de 1% do mercado
Apesar de todos os benefícios ambientais, o algodão colorido ainda representa menos de 1% da produção nacional do setor. E não deve passar muito disso, segundo especialistas.

"Ele se encaminha muito bem para o nicho, para pequenas e médias propriedades; não deve aumentar muito a área total plantada no país", disse Lucílio Alves, que pesquisa o mercado do produto no Cepea (Centro de Pesquisa Agropecuária).

Por ser um produto de nicho, o algodão colorido é mais caro do que o tradicional. Enquanto o quilo do algodão branco sai por R$ 5, a mesma quantidade do produto colorido é vendida por R$ 8,5 (70% mais cara).

O produto é desenvolvido em cinco cores: marrom claro, marrom escuro, vermelho claro, vermelho escuro e verde.

Algodão colorido contribui para aumento da renda de pequenos produtores

Pequenos produtores ganham mais
Quem tem aproveitado para ganhar mais são os pequenos produtores do interior da Paraíba. Margarida Alves, conhecida como "Dona Preta", já planta o algodão colorido há quase oito anos. "Até 2005, só plantávamos o branco, e a renda era muito pequena com o pouco de terra que temos", disse.

Com uma produção de 280 kg de fibra do tipo colorido, obtida em um hectare, Dona Preta deve ter faturamento de cerca de R$ 2.400. A colheita ocorre em novembro.

A área de produção dela é uma das 35 de uma propriedade de 700 hectares do município de Juarez Távora (a 75 km de João Pessoa).

Cerca de metade das famílias do local complementam sua renda com o algodão colorido, que começou a ser cultivado na região em 2005.

Produtores dividem trator e máquina que tira caroço
Uma associação dos produtores de Juarez Távora divide trator e máquina de descaroçar algodão, doadas por uma entidade beneficente em 2000.

"Isso valorizou muito o produto. Se vendêssemos o algodão com o caroço, ele sairia por R$ 2 [o quilo]", diz Margarida. O produto sem caroço vale 325% mais (R$ 8,50).

Os gastos com as máquinas são pagos com a renda de três hectares de algodão, que os associados cultivam em mutirão.

Modelo usa vestido feito com algodão colorido

Da Paraíba para o mundo
Todo o produto da comunidade é vendido para a Associação de Produtores de Vestuário da Paraíba, que consome quase metade de toda a produção do Estado. Oito empresas que participam da associação criaram em 2007 uma marca, a Natural Cotton Colors, focada na exportação de peças feitas com o algodão colorido.

A aceitação do produto no exterior tem crescido nos últimos anos, segundo a empresária Francisca Vieira.

"No começo nem 10% eram exportados, mas, em 2012, chegamos a 30% pela primeira vez. Ao que tudo indica, podemos chegar a 50% neste ano", estima a coordenadora da marca.

Porém, a produção ainda pequena do algodão colorido tem travado o aumento das exportações.

"Neste ano, serão produzidas 35 toneladas de algodão colorido. Parte vai para o mercado interno, mas o grande foco é chegar com força no mercado internacional", afirma o técnico da Embrapa Waltenilton Cartaxo.

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